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quinta-feira, setembro 6

Viagem pelo mar da Noruega revela variedade gastronômica que vai muito além do bacalhau

O chef Einar Halstensen prepara peixes como cavalinha e hadoque que tinham acabado de ser pescados
Fazia cerca de 14ºC, num dia de mar calmo e absurdamente azul. Era um baita calor para os noruegueses, familiarizados com temperaturas que chegam, em tempos de inverno, a -40ºC.
O desafio era o seguinte: as 12 pessoas a bordo do barco Symra - marinheiros, diplomatas, chefs e jornalistas - só comeriam o que conseguissem pescar, fosse bacalhau ou outros peixes quaisquer. Se é que conseguiriam...
O barco saiu de Henningsvaer, ao norte do país, em direção a Vestfjorden, um trajeto de cerca de 30 km.
Logo o capitão começou a dar as orientações. Com cabelos grisalhos e pele curtida de sol, Geir Martin exibia um indefectível ar de Clint Eastwood dos mares: "Só vamos parar quando o 'fish finder' [um tipo de sonar] acusar um bom cardume abaixo de nós".
O chef Einar Halstensen prepara peixes como cavalinha e hadoque que tinham acabado de ser pescados

Depois de uns 40 minutos, o barco parou. Cada um escolheu um lugar de onde liberaria a linha, enrolada em uma manivela, até que o anzol chegasse quase ao fundo.
Começou a ginástica, o sobe e desce do anzol para atrair os peixes. E não demorou para que esta repórter percebesse que havia algo ali. Era tão pesado que foi preciso chamar um pescador experiente para ajudar.
Os olhos dele brilhavam, em um misto de alegria e inveja do provável grande feito da iniciante. Máquinas a postos. Coração disparado.
Até que, num puxão forte e definitivo, a linha subiu. Sem peixe, nem anzol. "Ficou preso, foi arrancado", disse o pescador. Por um peixe gigante? "Não. Provavelmente, por um emaranhado de algas", contou, indiferente.
O almoço teria de esperar, até que um peixe desavisado resolvesse abocanhar a isca.
A aventura naquele dia de sol era apenas uma parte de uma semana de viagens que percorreram a costa e o interior do país do norte da Europa. Ao longo desse período, além do bacalhau, a reportagem se deparou no mar ou à mesa com peixes como arenque e cavalinha. Conclusão?
Essa Noruega gastronômica de pouca visibilidade para os brasileiros merece ser conhecida. Ao longo de 101 mil km, extensão da costa se contadas as ilhas, há mais de 40 espécies de peixes.
Como os meses de julho e agosto são bons para a pesca na região, tudo indicava que o barco logo estaria abarrotado não apenas de bacalhau mas também de arenques, cavalinhas, hadoques.
Mas na pesca é preciso ter sorte. Foi a chef Heloisa Bacellar, do restaurante Lá da Venda, em São Paulo, quem garantiu o almoço ao pegar 13 peixes. Esta repórter pescou duas cavalinhas, mas teve de devolver uma porque a legislação norueguesa não permite a retirada de peixes com menos de 20 cm.
Das armadilhas no mar, vieram os caranguejos e o halibute, peixe achatado, de cabeça pequena. A próxima parada foi em uma das ilhas de Lofoten para, finalmente, fazer o almoço na grelha que já estava a postos, à beira-mar.
O mais saboroso era o cod que, no Brasil, chega como bacalhau - depois de passar pelo processo de salga e secagem. Mas ali foi provado fresco, com sabor delicado. Outro sucesso foi o halibute, que só precisou de grelha e uma pitada de sal.
Em outro barco, um antigo baleeiro que saiu de Tromso, também no norte, a reportagem provou o famoso salmão norueguês. Servido cru, estava tenro, fresco e saboroso.
Entre os peixes e crustáceos dos mares da Noruega, o Brasil recebe apenas o bacalhau, o arenque e o caranguejo. Há sondagens em curso de empresas nacionais para trazer o salmão norueguês.

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