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segunda-feira, abril 16

Lugar de homem é na cozinha...

Eles não economizam na hora de comprar acessórios, adoram receitas complicadas e gostam de receber os amigos enquanto pilotam um fogão: são os cozinheiros de fim de semana


  • 60% dos compradores de livros de luxo de gastronomia são homens
  • 90% dos fogões italianos da marca Ilve, vendidos no Brasil a 70.000 reais cada um, são comprados por homens
  • Carnes especiais e azeites importadossão as extravagâncias dos homens nos supermercados ­ as das mulheres são os cosméticos
  • 60% dos alunos de culinária chique são do sexo masculino
  • 12 das 20 unidades de um empreendimento imobiliário carioca em que a cozinha é o cômodo de maior importância foram compradas por homens sozinhosFontes: DBA Editora, loja Suxxar, construtora Gafisa, supermercados Pão de Açúcar e escola de culinária Wilma Kövesi, de São Paulo

Quando um homem decide cozinhar, ele deixa de lado toda a praticidade da qual tanto se orgulha em todas as outras atividades de sua vida. Atrás do fogão, os homens são cheios de manias e salamaleques. A escolha do cardápio, a forma de executar os pratos e até os utensílios usados para prepará-los passam longe do feijão-com-arroz. Eles adoram os detalhes. Pesquisam a procedência dos ingredientes, descobrem receitas e são o grande público consumidor dos artigos de cozinha de luxo. Em geral, para a mulher só existe um ralador. Para o homem, não. Tem o ralador de trufa, de noz-moscada, de legumes... O arsenal deles inclui ainda pegadores de fio de macarrão (as mulheres usam o garfo mesmo), sapatos que só são usados na cozinha, facas com fio específico para cada tipo de alimento, entre outros objetos culinários não identificados por quem se dedica apenas ao trivial.
  

   Para terem acessórios como esses, eles desembolsam sem remorso – o que, na cabeça de uma mulher, é um desperdício sem tamanho. "Já houve situações constrangedoras, em que o casal discutiu, na frente de todo mundo, o fato de ele ter pago uma fábula por um apetrecho", conta Tuti Generali, proprietária da loja paulista Suxxar, uma das mais tradicionais do setor. Justamente por isso, eles preferem ir às compras sozinhos. Para se ter uma noção do poder e da vontade de comprar desses cozinheiros, 90% dos fogões italianos da marca Ilve importados pela Suxxar foram vendidos para homens. O preço? Setenta mil reais.
   A presença dos homens na cozinha é um fenômeno que não pára de crescer no Brasil. O mercado começou a expandir-se com a abertura das importações, no início da década passada. Na época, chegaram ao país ingredientes como temperos franceses, carnes exóticas, massas italianas e utensílios de cozinha alemães, suíços, americanos e franceses. "Com isso, a culinária sofisticada tornou-se mais acessível e houve uma virada no modo de cozinhar", diz Betty Kövesi Mathias, que coordena a Escola Wilma Kövesi, uma das mais tradicionais de São Paulo. Quando foi fundada, no começo da década de 80, a escola contava basicamente com noivas aflitas por aprender os truques da cozinha às vésperas do casamento. Hoje, o número de homens equivale ao de mulheres. "Eles começam na culinária pelos grandes pratos, aqueles mais complicados", diz Betty. "Os homens gostam de mostrar que sabem preparar o que é mais difícil."
   O industrial Lenine Marcatto, de 51 anos, é um exemplo de cozinheiro aplicado. Ele tem no currículo mais de dez cursos de culinária, entre workshops com chefs renomados e aulas com professores de faculdades de gastronomia. "Sou um amador-profissional", afirma Marcatto. O gosto pela culinária é tanto que, a cada dois meses, ele aluga um espaço com equipamentos profissionais e cozinha para os amigos. Numa dessas reuniões, Marcatto preparou um caldo com penne e fagioli. Para servi-lo aos comensais, os preparativos começaram três dias antes do encontro. "O caldo requer esse tempo todo de preparo para ficar no ponto", diz o industrial. Sempre que cozinha, Marcatto veste-se com a roupa de chef – um jaleco que tem seu nome bordado em letras douradas no lado esquerdo – e calça sapatilhas italianas resistentes a choques e altas temperaturas. Ele leva a tiracolo suas panelas (os homens adoram usar uma panela específica para cada tipo de prato que preparam), além de uma pequena mala de viagem com outros utensílios, como facas, escumadeiras e peneiras. Em casa, guarda suas ferramentas de trabalho bem longe das mãos alheias – trancadas num gaveteiro no quarto dele e da mulher, Adriana.
   O interesse masculino por culinária é tanto que inspirou até o projeto de um empreendimento imobiliário na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Batizado de "apartamento gourmet", o imóvel tem na cozinha o seu principal ambiente. Cozinha, não. Área social, por favor – ela traz integradas as salas de estar e jantar com a copa e a cozinha. A tal área social ocupa nada menos do que um terço dos 95 metros quadrados do apartamento. Tradicionalmente, a copa e a cozinha ocupam um quarto da planta. Os principais compradores do "apartamento gourmet": homens solteiros ou divorciados.




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